domingo, 11 de junho de 2017

Já se vê Outubro

De modo que, 30 anos e muitas caixas de migraleve depois daquela malfadada manhã em que dei por mim a vomitar na rua a caminho da escola, de rastos com a dor de cabeça e com a vergonha, fui ao neurologista.

Saí de lá com sentimentos ambíguos: diz que dentro de 3 meses já não devo ter dores,  mas tenho que cumprir um tratamento contínuo,  durante 1 ano.

Ora eu, que gosto tanto de comprimidos - só tomo o migraleve e só quando já não consigo aguentar as dores - encho-me de brio e vou à farmácia aviar a primeira dose mensal. À hora do jantar, começo a faina, até porque sinto uma dorzinha leve a formar-se e a dar todos os sinais de querer vir a ser uma grande dor em apenas meia dúzia de horas.

A noite foi insuportavelmente longa, acordada a todo o tempo, mas nada me preparou para o dia. Foi como se tivesse perdido o controlo do meu corpo. Entre a dor, que se tornou enorme, e o efeito dos comprimidos,  na minha cabeça estava a acontecer uma verdadeira batalha e eu ali estava, completamente impotente, à espera que as horas passassem,  empurrada pela certeza de ser apenas a reacção inicial aos medicamentos e pensando, a cada instante, estar mais perto do alívio.

E é aí que me encontro agora. Ligeiramente aliviada mas ainda perdida numa terra desconhecida onde tudo é enevoado. É verdade que o facto de andar a ler livros de direito e a tentar compreender a eficácia de uma lei sem sanções,  ajuda a tornar tudo bastante irreal.

Não faço risquinhos na parede, mas tenho tudo contado. Faltam 3 meses e 19 dias para entregar a tese. Faltam 3 meses menos 3 dias para estar livre da dor de cabeça. Em Outubro ninguém me pára.

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